sábado, 24 de setembro de 2016

Lembranças

Compráramos um livro de Dungeons and Dragons segunda edição e formamos um grupo de RPG entre meus amigos mais queridos. Reuníamos todas as tardes,  tínhamos até calendários para jogar durante as férias inteiras. Naquele tempo, durante a oitava série, com apenas 14 anos, eu tinha certeza que aquelas tardes de fantasia durariam pra sempre.

Eu e Marcelo conseguimos o download de SimCity 2000. Ficávamos debatendo sobre como produzir uma cidade sem poluição, com baixa criminalidade e, ao invés de cada esquina um bar - como é a realidade do nosso país - cada esquina teria uma biblioteca. Naquela tarde eu projetei uma cidade infalível em meu caderno durante a aula de matemática: quarteirões equidistantes, delegacias com zonas de influência demarcadas, parques para todos, pontos turísticos perto dos quadrantes de comércio e as hidrelétricas manteriam a poluição baixa junto com o enorme cinturão verde que separava as zonas residenciais das zonas industriais. Infelizmente a lógica do jogo não levou quase nada disso em consideração. O jogo era mais pobre do que imaginamos e, ao final, tudo acabava preenchido por enormes arcológicos ou destruído por alienígenas.

Usávamos camisas pretas de Iron Maiden, Nirvana e Guns n' Roses. Nos sentíamos os paladinos da cultura pregando o fim do funk e promovendo o Metal de primeiro mundo. Passávamos tardes na janela ou na varanda imaginando como era morar em um país de primeiro mundo sem aquela cultura popular carnavalesca. Certa vez, cortamos uma bandeira americana da minha meia e a queimamos simbolicamente na janela. Ela caiu em chamas entre as plantas da mãe do Marcelo e  foi uma trapalhada pra conseguirmos apagar.


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