quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Carta Monteiro Lobato

Em carta ao amigo Godofredo Rangel: “(…)Dizem que a mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis. Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num desfile, à tarde, pela horrível Rua Marechal Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde. E vão apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” “Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente vingança!…” (em “A barca de Gleyre”. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).

Para quem possa ter dúvida sobre o seu compretimento, um carta ao amigo e médico eugenista Renato Kehl,  esclarece tudo: “Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (…) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha”.
 Para quem possa não saber o que significa eugenismo (teoria racista de valorização da raça pura), até a wikipédia ajuda:  ” O Brasil foi o primeiro país da América do Sul a ter um movimento eugênico organizado. A Sociedade Eugênica de São Paulo foi criada em 1918.O movimento eugênico no Brasil foi bastante heterogêneo, trabalhando com a saúde pública e com a saúde psiquiátrica. Uma parte, que pode ser chamada de ingênua ou menos radical, do movimento eugenista se dedicou a áreas como saneamento e higiene, sendo esses esforços sempre aplicados em relação ao movimento racial.
Em 1931 foi criado o Comitê Central de Eugenismo, presidido por Renato Kehl e Belisário Penna. Propunha o fim da imigração de não-brancos, e “prestigiar e auxiliar as iniciativas científicas ou humanitárias de caráter eugenista que sejam dignas de consideração“. Medidas que visavam impedir a miscigenação.[8]Higienismo e eugenismo se confundem, no Brasil.
Revista Brasileira de Enfermagem passa por três fases em relação à eugenia; conceituação (1931-1951), conflitos éticos, legais e morais (1954-1976), e eugenia como tema do começo do século XX (1993-2002). Expressa três categorias de conceitos:
  • 2 – responsabilidade do enfermeiro em relação ao tema
  • 3 – não há solução para os males sociais fora das leis da biologia“.
Hitler também pensava assim.

Mais: “Nos EUA surgiu a eugenia negativa – aliança entre as teorias eugênicas européias e o racismo já existente naquele país -, que consiste na eliminação das futuras gerações de incapazes (doentes, de raças indesejadas e empobrecidos) através da proibição de casamentoesterilização coercitiva e eutanásia”.

mais umas pitadas contextuais temporais do nosso velho de guerra Monteiro Lobato:
1905 (na carta a Tito Lívio Brasil)
".... A mesma lei que faz a criança filha do negro sair, em quaisquer condições do meio e da cultura em que seja colocada, com a pele preta do pai, faz também uma raça conservar sempre os característicos morais dos seus antepassados. No caso individual só um sangue mais elevado, um sangue de raça mais superior, poderá transfundir nos entes novos o germe da progressividade; no caso segundo, só a emigração e a consequente fusão de sangue superior trará uma aptidão congênita para o progresso. É o nosso caso. As melhores leis, os homens mais sábios, a ciência inteira a nosso serviço, não aumentaria de um grão a nossa progressividade. A educação (porque isso seria educação) não operaria na essência do homem, e sim na superfície.
É necessário para que o Brasil ganhe algum dia o estado que almeja da civilização, que a grande qualidade que falta ao mesmo se torne congenital pela inoculação dos vírus modificadores. Faltava-nos aptidão para o trabalho, espírito de iniciativa e ambição. Como poderão ser inoculadas essas qualidades na massa do nosso sangue? Pela educação, propaganda, exemplo, necessidade? Não. Tudo isso junto seria improfícuo.
É pelo italiano e pelo alemão que esse vírus, essa vacina será lançada em nossas veias, e portanto o maior patriota no momento atual é aquele que se casa com uma italiana ou uma alemã e vai trabalhar como um mouro nos campos a fazer bons filhos, sacudidos e espertos."
1916  (na carta a Heitor de Morais)
"... Farto ando da roça e de me aborrecer diariamente com a maior peste que Deus ou o Diabo botou no mundo para eterno castigo dessa besta de carga que é um fazendeiro norte-paulista: o caboclo. Oh! Quadrúmanos! Oh! quadrúpedes (ainda não me firmei em que espécie eles residem) vagabundos! Que horror tem eles ao trabalho! Suspiro pelo domínio alemão no mundo, porque só o alemão, conquistando este país, teria o topete bastante para revogar a Lei 13 de Maio, pichar a caboclada e pô-la a substituir o negro no eito, sob vistas de truculentos feitores armados de uma máquina de surrar aperfeiçoadíssima, movida a eletricidade. Por mal dos meus pecados o Júlio de Mesquista derranca tanto a Alemanha na resenha semanal, que não sei se ela resistirá este 42 vocal. E o Rui por cima a mobilizar o seu exército inumerável de verbalismo..."

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